quinta-feira, 26 de maio de 2011

Marcos Bagno: o livro didático e a ignorância da grande imprensa

Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua.

Por Marcos Bagno*, em seu site

Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos do que eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentemente convencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).

Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.

Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana.

Somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito.

E, é claro, com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela – devidamente fossilizada e conservada em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.

Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.

A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver as coisas em perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes.

Nesses discursos só existe o preto e o branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.

Darwin nunca disse em nenhum lugar de seus escritos que “o homem vem do macaco”. Ele disse, sim, que humanos e demais primatas deviam ter se originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso que precisava de um lema distorcido como “o homem vem do macaco” para empreender sua campanha obscurantista, que permanece em voga até hoje (inclusive no discurso da candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado).

Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua.

O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa não significa automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.

Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles – se julgarem pertinente, adequado e necessário – possam vir a usá-la TAMBÉM.

O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme, que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três gatos pingados).

O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em que defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente.

Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?

* Marcos Bagnos é escritor, linguista e professor da Universidade de Brasília

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=154402&id_secao=6

domingo, 20 de março de 2011

I Feira do Conhecimento do Colégio Eliel Martins

Lécia Pena
(lecyapenna@hotmail.com)

            A I Feira do Conhecimento realizada pelo Colégio Eliel Martins, localizado no Município de Ouriçangas-Bahia contou com a participação de alunos, professores, direção, funcionários e a comunidade local.
           A Feira foi realizada no mês de novembro. Foram 4 os eixos temáticos apresentados na Feira: Meio ambiente, A juventude, Doenças Modernas e a Cultura local. A realização de um trabalho interdisciplinar possibilitou que os alunos se motivassem para a pesquisa e a construção do conhecimento.
         A experiência com este projeto foi muito importante para a escola.O que se percebia nas salas de aula eram alunos desmotivados. A Feira do Conhecimento é uma das alternativas de como se trabalhar com diferentes conteúdos, tornado o aluno ativo na construção do conhecimento.
        O empenho de cada um na pesquisa, na elaboração dos textos, na confecção do material e na apresentação foi imprescindível para o sucesso da Feira.














domingo, 16 de janeiro de 2011

FALAR BRASILEIRO
Viva Adoniran Barbosa!

Por Marcos Bagno

Foi celebrado o centenário de um nome da música popular brasileira que é um verdadeiro personagem da nossa história cultural: Adoniran Barbosa. Esse João Rubinato (seu nome verdadeiro) recorreu a uma linguagem que tentava representar, com muita graça, o cotidiano das classes mais humildes da cidade de São Paulo, sobretudo dos imigrantes italianos. É preciso ressaltar, no entanto, que essa linguagem aparece ali de modo caricatural e nunca como a transcrição fiel de alguma variedade linguística autêntica. E é aí que mora o perigo quando tentam utilizar Adoniran na escola para o estudo da variação linguística.

Adoniran, junto com o personagem Chico Bento (de Maurício de Sousa), o compositor Luís Gonzaga e o poeta Patativa do Assaré, compõe o grupo das “vítimas” preferenciais do trabalho que se faz, em muitos materiais didáticos, com o fenômeno da variação. O grande problema é que existe ali uma tendência a tratar da variação linguística em geral como sinônimo de variedades regionais, rurais ou de pessoas não-escolarizadas. Parece estar por trás dessa tendência a suposição (falsa) de que os falantes urbanos e escolarizados usam a língua de um modo mais “correto”, mais próximo do padrão, e que no uso que eles fazem não existe variação, o que não é verdade.

Daí a insistência dos materiais didáticos em apresentar como exemplos de variação linguística uma tirinha do Chico Bento, um samba de Adoniran, um baião de Luís Gonzaga ou um poema de Patativa. Qual o problema? Muito simples: não são representações fiéis das variedades linguísticas que supostamente veiculam. Não são, nem têm que ser, já que em todas essas manifestações está presente uma intenção lúdica, artística, estética e, nem de longe, um trabalho científico rigoroso. A responsabilidade pelo problema não é de Maurício de Sousa, não é de Adoniran, nem de Gonzagão, nem de Patativa — o problema está no uso inadequado que se faz dos trabalhos criativos dessas pessoas.

Os primeiros versos do conhecido “Samba do Arnesto”, por exemplo, dizem assim: “O Arnesto nos convidou / prum samba, ele mora no Brás, / nós fumo e não encontremo ninguém...”. Ora, a terceira palavra do primeiro verso, o pronome oblíquo “nos”, é de uso muito restrito no português brasileiro contemporâneo falado, sobretudo nas variedades ditas “populares”, como aquela que o samba pretende retratar. Dificilmente as pessoas que usam as outras formas linguísticas que aparecem no samba ― “nós fumo”,  “encontremo”, “vortemo”, “nós num vai mais”, “reiva”, “ponhado” etc. ― usariam esse “nos” oblíquo. Mais provável seria “convidou nós” ou “convidou a gente”. No entanto, como o compromisso de Adoniran é com a música e a métrica dos versos, ele usou o “nos”, opção perfeitamente legítima para um compositor. Limitar o estudo da variação às falas rurais ou urbanas sem prestígio é criar uma falsa sinonímia entre variação linguística e “erro”, o que só serve para estimular o preconceito linguístico, já tão impregnado na nossa cultura.

Marcos Bagno é linguista e escritor.
www.marcosbagno.com.br

Poemas


Aula de português

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, equipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.

Carlos Drummond de Andrade


Antigamente
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. 


                           Carlos Drummond de Andrade



 Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Oswald de Andrade


Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.


Oswald de Andrade

sábado, 15 de janeiro de 2011

Proposta pedagógica

Proposta pedagógica
Introdução
                A variação lingüística é uma temática instigante e que deve ser contemplada nas aulas de português.  As aulas de português, geralmente enfatizam apenas os conteúdos de gramática, deixando de abordar as variações que existem na língua portuguesa. A língua muda, sofre variação, mas muitos fecham os olhos para esta realidade. Ensinar português não é ensinar apenas gramática, como se a gramática em si explicasse todos os fenômenos da língua. A gramática aborda a língua culta, mas ela é apenas uma variação da língua portuguesa, a variante padrão.  Existe a língua popular, estigmatizada e alvo de preconceitos.
Justificativa
A proposta pedagógica contemplará a temática da variação lingüística. Alguns alunos  da zona rural possuem um falar diferente, particular, mas que é visto como “erro” pela sociedade brasileira e pela escola. A proposta, então, tem o objetivo de discutir a variação lingüística, e fazer com que o aluno perceba que existem diferenças entre a norma culta e a norma popular.
Objetivos           
·         Perceber as diferenças entre a norma culta e a norma popular;
·         Contribuir para que o aluno desenvolva uma visão não preconceituosa em relação às variedades linguísticas divergentes do padrão culto.

Atividades
Os alunos vão realizar pesquisas sobre a variação lingüística e seus tipos (variação histórica, geográfica, sociocultural) em revistas especializadas, livros, internet, etc. Após a pesquisa bibliográfica, os alunos apresentarão as informações colhidas e realizaremos um debate em sala organizando um painel com as mesmas.         O segundo momento será o da pesquisa de campo. Os alunos realizarão entrevistas com algumas pessoas para observar as suas falas. A variação a ser pesquisada será a diatópica, que leva em consideração os fatores extralingüísticos na situação de fala (escolaridade, sexo, faixa etária...).  Serão colhidos dados de pessoas de sexo, idade e nível de escolaridade diferente. Um relatório deverá ser escrito para relatar as informações. Após a coleta dos dados serão feitas as análises e comparações com a construção de um gráfico. As informações pesquisadas e os dados colhidos, e suas análises serão lançadas no blog HTTP:/variações linguísticas.blogstop.com Este será um espaço para divulgação de informações sobre a temática, além de imagens, fotos, vídeos, letras de músicas, poemas, etc.
Recursos
Livros, revistas, textos da internet
Avaliação
Será contínua, e levará em consideração os aspectos qualitativos. O acompanhamento do professor aos momentos da atividade será importante para uma aprendizagem significativa.
Referências
AMARAL, Emília. Novas palavras. São Paulo: FTD, 2003
BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico.  São Paulo: Loyola, 2001,
ILARI, Rodolfo & BASSO, Renato. O português da gente: a língua que  estudamos, a língua que falamos

As letras das músicas de Adoniran Barbosa demonstram uma imensa variação linguística

Saudosa Maloca

Si o senhor não está lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca
Mais, um dia
Nem nóis nem pode se alembrá
Veio os homi cas ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.



Samba do Arnesto

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever"
Arnesto

As variações da língua

AS VARIAÇÕES DA LÍNGUA


Ana Cláudia Fernandes Ferreira anaclau@iel.unicamp.br

“Minha vó contava uma história quandu a família tava reunida , sobri um tiu... achu qui é tiu avô, num sei... bom, essi tiu, chamava Zuardo, mais u nomi deli era pá sê Osvaldo! “. É qui quandu fôru registrá eli, disséru “Osvardo”, tão rápidu, cum um ô qui nem dava pra ouví e cum um érri nu lugar di éli, qui u iscrivão intendeu Zuardo! I intão, ficou assim...” 
Ana Cláudia, 04 de maio de 1999

 “Pois é. U purtuguêis é muito fáciu di aprender, purqui é uma língua qui  a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im portuguêis, é só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a minha lingua é u purtuguêis. Quem soubé falá, sabi iscrevê.”

Jô Soares, revista veja, 28 de novembro de 1990
              

Introdução
Este texto é um dos primeiros trabalhos que apresentei no curso de graduação em Lingüística. É um trabalho para a disciplina Introdução aos Estudos da Linguagem, que foi ministrada pela professora Vandersí Sant’Anna Castro no primeiro semestre de 1999.

As variações da língua
Uma definição geral sobre a variação lingüística torna-se necessária para um melhor aproveitamento dos textos inicialmente postos.
Podemos entender por dialeto as variações de pronúncia, vocabulário e gramática pertencentes a uma determinada língua. Os dialetos não ocorrem somente em regiões diferentes, pois numa determinada região existem também as variações dialetais etárias, sociais, referentes ao sexo masculino e feminino e estilísticas.
Como exemplo de variação regional, encontramos certas palavras possuindo significados que necessitam de “tradução”, caso de “pastelaria” significando para os brasileiros o lugar onde se vende pastel de carne, queijo e palmito basicamente. Em Portugal vamos à pastelaria comprar pães doces, bolinhos e outras guloseimas do gênero. Um carro velho e muito usado é apelidado de “chocolateria” em Portugal, mas no Brasil não se usa esse termo.
Na cidade de Campinas, um fato interessante merece ser mencionado: As pessoas que vieram de diferentes regiões para essa cidade, convivem entre si e entre os “nativos”, promovendo um “intercâmbio” de dialetos regionais. Esse tipo de fato pode gerar mudanças no dialeto do campineiro.
Existem dialetos que evidenciam o nível social ao qual  pertence um indivíduo. Os dialetos mais prestigiados são das classes mais elevadas e o da elite é tomado não mais como dialeto e sim como a própria “língua”. A discriminação do dialeto das classes populares é geralmente baseada no conceito de que essa classe por não dominar a norma padrão de prestígio e usar seus próprios métodos para a realização da linguagem, “corrompem” a língua com esses “erros”. No entanto, as transformações que vão acontecendo na língua se devem também à elite que absorve alguns termos de dialetos de classes mais baixas, provocando uma mudança lingüística, e aí o “erro” já não é mais erro... e nesse caso não se diz que a elite “corrompe” a língua.
A camada mais jovem da população usa um dialeto que se contrasta muito com o usado pelas pessoas mais idosas. Os jovens absorvem novidades e adotam a linguagem informal, enquanto os idosos tendem a ser mais “conservadores”. Essa falta de conservadorismo característica no dialeto dos jovens costuma trazer mudanças na língua. Algumas gírias usadas por jovens da década de setenta no entanto não entraram na língua e são hoje em dia raramente usadas como “pisante” para sapato ou “cremilda” para dentadura. A palavra “legal” entretanto, foi aceita e hoje é usada amplamente na linguagem informal, abrangendo todas as faixas etárias.
Esses exemplos comprovam o fato de que nem tudo que é novo e diferente irá se efetivar numa língua, podendo alguns vocábulos simplesmente ir desaparecendo e outros continuarem existindo dentro de um determinado dialeto, ou até abranger seu uso por outros, sem necessariamente cobrir todos os dialetos existentes  nessa língua.
As mulheres possuem algumas peculiaridades no uso da língua e os homens possuem outras. Para exemplificar essas variações referentes ao sexo observamos os diminutivos como “bonitinho”, “gracinha”, “menininha”, sendo usados mais pelas mulheres e aumentativos de nomes próprios como “Carlão” e “Marcão” sendo mais usados por homens.
Dependendo do ambiente em que o indivíduo se encontra, ele usará a linguagem coloquial, formal ou informal e essa diferença de tratamento faz parte da variação estilística.
Por último, o dialeto falado também se difere do dialeto escrito.
Alguns dialetos são usados com diferentes sotaques regionais como ocorre na norma culta da língua portuguesa. Os sotaques então, não podem ser confundidos com dialeto, pois o que caracteriza o sotaque é apenas a diferença de pronúncia dos falantes.
“A questão é que certas diferenças fonéticas entre sotaque podem ser estigmatizadas pela sociedade, da mesma forma como certas diferenças lexicais e gramáticas entre os dialetos o são. O sotaque e o dialeto de uma pessoa varia sistematicamente segundo a formalidade ou informalidade da situação em que se encontra. ( Linguagem e lingüística. Uma introdução - John Lyons).”
A partir das definições dadas, várias curiosidades encontradas no texto poderão ser descritas neste trabalho.
A transcrição da fala  mostrou que os falantes usam a variante “culta” da língua, porém a variante informal e com características próprias da fala. Mas essas transcrições, podem gerar problemas se levarmos em conta os sotaques usados pelos diversos falantes de uma mesma variante.  Alguma palavra poderia ser transcrita de acordo com o sotaque de um determinado falante. Um carioca por exemplo transcreveria “poix é”, diferentemente de um paulista, que usaria “pois é”. Em conseqüência, a transcrição seria lida de forma diferente também. A língua escrita, seja ela formal ou informal possui certas normas gramaticais que facilitam a leitura de qualquer falante. As transcrições fonéticas  seriam mais adequadas para melhor diferenciarmos os diferentes tipos de sotaques  existentes.
As pessoas que não dominam a escrita como ela é ensinada na escola, tendem a colocar na escrita os traços da fala. Uma característica facilmente encontrada nos textos que diferem a escrita da fala atualmente é o uso de “u” e “i”, no lugar de “o” e “e”. Esse aspecto pode significar uma mudança em andamento na língua. Entretanto não seria correto dizer que essa mudança irá chegar à escrita devido a força que as gramáticas normativas adquiriram na imposição do que é “correto” na língua escrita. 
A fala possui algumas peculiaridades que não são encontradas na escrita, e são referentes à funcionalidade e outros fatores que a escrita usa do outro modo para se fazer entender.
É compreensível que as pessoas que não observam com atenção o funcionamento da língua, possam fazer afirmações como: “O português é muito fácil de aprender porque é uma língua que a gente escreve como se fala.” O fato é que  freqüentemente não  nos damos conta que a mente produz as decodificações necessárias para a compreensão imediata e perfeita  da língua. E é claro que aquelas transcrições foram feitas propositalmente, para que se torne mais claro que a linguagem é muito mais complexa do que imagina-se com  certa freqüência.